quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A politica de D.Afonso V

A partir do reinado de D. Afonso V, todos os estudiosos unanimemente afirmam que se verificou, neste período, um abrandamento das viagens de exploração. O próprio Infante D. Henrique, o grande animador da progressão para sul desde que, em 1443, D. Pedro, enquanto regente, lhe entregou o controlo das navegações e terras a descobrir, desvia a sua atenção para a cruzada levada a cabo no Norte de África. No que concerne a esta diminuição das viagens de exploração e comércio ao longo da costa ocidental africana, José Matoso chega mesmo a afirmar que se fez alguma coisa “entre 1448 e 1475, nomeadamente em matéria de navegação..., deveu-se à iniciativa de particulares, mercadores concretamente, porque as navegações davam lucros.” (incitação: História de Portugal, A Monarquia Feudal (1096-1480), Uma das poucas vozes que se levantam contra esta opinião, dentro da historiografia portuguesa, no reinado de D. Afonso V que pela primeira vez a coroa intervém directamente em todas as linhas da expansão, concentrando nas suas mãos os rumos expansionistas. Pensamos que ambos os historiadores não fogem à verdade, apesar das opiniões divergentes. Por um lado, é inegável que até 1468, ano do arrendamento a Fernão Gomes, pouco se adiantou na exploração rumo a sul, pois o nosso monarca focou os seus esforços e atenções, como já foi referido, na política de conquista de praças no Norte de África, mais tarde, em 1475, concentrou todo o seu empenho na luta pela sucessão ao trono de Castela, por morte de D. Henrique IV, seu cunhado, chegando nesse mesmo ano a entregar ao príncipe D. João o pelouro das navegações. Por outro lado, é também verdade que após a morte do Infante D. Henrique os privilégios e monopólios por ele detidos em relação às navegações voltaram em grande parte para poder da coroa, nomeadamente os respeitantes à costa da Guiné e ao seu comércio, transferindo D. Afonso a Casa da Guiné de Lagos para Lisboa, que era um dos grandes centros comerciais da Europa de Quatrocentos; é também verdade que o monarca conhecia as riquezas da Guiné e que vários dos seus navios aí iam comerciar; é também verdade que é D. Afonso V que concede privilégios a quem fosse morar nas recem descobertas ilhas de Cabo Verde; é também verdade que foi D. Afonso V que reinicia os descobrimentos, após a morte de D. Henrique, ao arrendar o comércio da Guiné a Fernão Gomes. Descobertas, tanto que no seu reinado, apesar de certas paragens, descobriu-se um largo e importante troço da costa africana.
A política de expansão ultramarina durante um vasto período andou ao sabor dos interesses de duas classes: a nobreza e a burguesia. A primeira apostava na acção militar, na guerra directa ao infiel, que lhe permitiria obter
Rendas, títulos, benesses e recompensas régias. A segunda apostava na actividade comercial, na exploração geográfica de novas terras que lhe permitiriam aceder a novos produtos, pretendiam, assim, a acção militar em favor do contacto pacífico, pois era este que lhe permitiria o acesso às fontes das matérias-primas. Os interesses das duas classes entravam frequentemente em conflito e nos primeiros tempos da Expansão condicionaram, em muito, a decisão quanto ao caminho que se deveria tomar, consoante a classe que se encontrava mais próxima dos centros de decisão.
Com D. Afonso V, a nobreza assume um papel predominante no rumo da política ultramarina, já que progressivamente vai ocupar um dos mais importantes centros de decisão. Este facto, vai reflectir-se na política régia em relação a África e em relação à Expansão que até então prosseguia a um bom ritmo.

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